A estratégia de Oceano Azul, desenvolvida por Chan Kim e Renée Mauborgne, é uma abordagem inovadora de marketing e negócios que visa criar novos mercados inexplorados, onde a concorrência se torna irrelevante. Curiosamente, esta estratégia tem muito em comum com uma lição valiosa ensinada pelo matemático húngaro Abraham Wald durante a Segunda Guerra Mundial.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Abraham Wald foi um dos principais membros do Statistical Research Group na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. A sua contribuição mais célebre surgiu da necessidade urgente de reforçar a resistência dos aviões militares em combate.
Os militares, ao observarem os aviões que retornavam das missões, notaram que frequentemente apresentavam danos em áreas como as asas e a cauda. A suposição inicial era reforçar precisamente essas partes para aumentar a sobrevivência dos aviões. Contudo, Wald identificou um erro crítico nessa lógica. Ele argumentou que os aviões que regressavam eram precisamente aqueles que conseguiam sobreviver apesar dos danos nessas áreas. Assim, os buracos visíveis indicavam as áreas menos críticas, não as mais vulneráveis.
Wald propôs uma abordagem contrária: reforçar as áreas não danificadas dos aviões que voltavam, pois essas eram as partes que, quando atingidas, não permitiam o regresso dos aviões. Essa mudança de perspetiva ofereceu uma solução inovadora e eficaz, contrariando a lógica inicial.
Então, como é que a teoria de sobrevivência se relaciona com a estratégia de Oceano Azul?
A abordagem tradicional ao lançar um novo produto no mercado envolve a análise meticulosa do mercado existente: identificamos o público-alvo, estudamos a concorrência, analisamos tendências e tentamos diferenciar-nos dentro do mesmo espaço competitivo. Contudo, este método pode ser limitador, focando apenas nos “aviões que voltaram” – ou seja, os consumidores e mercados já estabelecidos.
Se Abraham Wald pudesse avaliar este nosso plano estratégico, provavelmente diria, com veemência: “Estão a ignorar o ponto principal!”
A chave para criar um verdadeiro oceano azul é focar nos “aviões que não voltaram” – olhar para além do mercado atual e consumidores habituais, concentrando-se nas pessoas que não consomem o produto.
Como? Suponhamos que estamos a lançar um produto na área da cosmética. A abordagem convencional seria focar nos consumidores atuais e na competição dentro do mercado de cosméticos. No entanto, seguindo a lição de Wald e a estratégia de Oceano Azul, devemos perguntar: “Quem são as pessoas que não usam produtos de cosmética, e porquê?”
Ao compreender as barreiras que impedem essas pessoas de consumir produtos de cosmética, podemos desenvolver soluções inovadoras que as atraiam, criando assim um mercado novo e reduzindo a concorrência a algo insignificante.
Assim, a mensagem é clara: para criar um produto verdadeiramente diferenciado e estratégico, precisamos de nos focar nos “aviões que não voltaram”. É essa mudança de perspetiva que permite às empresas abrir novos horizontes, criar valor único e encontrar verdadeiros oceanos azuis onde podem prosperar sem concorrência significativa.
Afinal, a chave para o sucesso pode estar onde menos esperamos – apenas temos de focar a nossa atenção nos aviões que não voltaram, ou seja, fora dos mercados e das suposições tradicionais, na descoberta do inexplorado.
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